Dúvidas Frequentes na Esquizofrenia

Como a família pode ajudar no tratamento?
Tudo começa pelo impacto inicial da notícia de que alguém da família tem esquizofrenia. Familiares ficam perplexos e confusos. Atitudes hostis, críticas e superproteção prejudicam o paciente. Apoio e compreensão são indispensáveis, assim ele conseguirá conviver com a doença e terá autoconfiança. A participação é importante, pois a doença afeta a dinâmica de toda a família. Informações sobre as características da doença ajudam a compreender melhor o problema e as necessidades do paciente. Vários estudos já mostraram que, quando se reduz a pressão familiar, melhora o prognóstico e as recaídas diminuem.
Como deve ser a comunicação com alguém que tem esquizofrenia?
Pessoas com esquizofrenia tem uma grande dificuldade para lidar com estímulos externos de qualquer tipo, especialmente quando há dois ou mais estímulos ao mesmo tempo. Por causa disso, as comunicações devem ser breves, concisas e claras. Faça uma pergunta de cada vez: “Foi bom o passeio? Aguarde a resposta, para, então, perguntar: “Quem foi com você?
 A esquizofrenia pode ser consequência do modo como os pais educam seus filhos?
Não. Houve um tempo em que se acreditava que esquizofrenia poderia ser causada dessa forma, principalmente pela maneira como a mãe se relacionava com seu filho. Atualmente, sabe-se que os pais não têm poder de causar essa doença em seus filhos, embora se reconheça que a esquizofrenia possa ser agravada pela atitudes dos pais em pressionar e aumentar as situações de estresse para o paciente.
A esquizofrenia pode se manifestar na infância?
É rara, e acomete uma criança a cada 10.000 (em adultos atinge um adulto em cada 100). A esquizofrenia infantil é uma perturbação que se engloba em um comportamento e pensamento anormais; inicia-se aproximadamente entre os sete anos e o princípio da adolescência. Entre os 13 e 18 anos a prevalência é maior do que antes dos 12 anos. Apresentam déficits neuropsicológicos importantes com uma grande gama de alterações na função cerebral, incluindo atenção, memória e funções executivas.
Idosos podem ter esquizofrenia?
A esquizofrenia começa no final da adolescência ou idade adulta jovem e persiste por toda a vida. Cerca de 20% das pessoas com esquizofrenia não apresentam sintomas ativos aos 65 anos; 80% mostram graus variados de comprometimento.  A doença torna-se menos acentuada à medida que o paciente envelhece.
Os sintomas da esquizofrenia manifestam-se da mesma forma em todos os pacientes?
Não. As manifestações sintomáticas podem ser completamente diferentes de um paciente para outro. Alguns pacientes apresentam delírios, alucinações, alterações na organização do pensamento e agitação. Outros se isolam e apresentam pobreza de discurso, retraimento social, enfraquecimento afetivo. Os sintomas podem variar em um mesmo paciente ao longo do tempo, de acordo com a evolução da doença ou conforme o tratamento adotado.
A agressividade é uma característica da esquizofrenia?
Geralmente, não. Pode ocorrer em alguns casos que, em função de ideias de perseguição ou de alucinações intensas, o paciente se sinta acuado ou ameaçado e possa reagir de modo agressivo. Os riscos de agressividade aumentam quando o paciente não aceita ser medicado ou não utiliza a medicação corretamente ou, ainda, quando usa drogas. Seguir o tratamento adequadamente minimiza os riscos de agressividade.
O abuso de drogas aumenta os riscos de violência?
O abuso de drogas aumenta significativamente o índice de violência em pessoas que têm esquizofrenia, mas também nas que não têm a doença. Pessoas com sintomas paranóides (de perseguição) e psicóticos, pioram se a medicação for interrompida e podem ter um maior risco de comportamento violento. Quando ocorre a violência, esta é com maior frequência direcionada a algum familiar ou pessoa próxima e, muitas vezes, acontece em casa.
Se o paciente se recusa a tomar o remédio, a medicação pode ser diluída em algum alimento ou bebida?
É bastante comum o paciente recusar a medicação. Dar o remédio escondido misturado à comida ou bebida não resolve o problema. O diálogo pode ser cansativo, mas continua sendo defendido como a maneira mais eficiente de fazer o paciente entender as implicações da doença e a necessidade do tratamento. É importante mostrar a relação entre o uso de medicamentos e a melhora dos sintomas.
Pacientes com esquizofrenia podem fazer uso de bebidas alcóolicas?
Não. As bebidas alcoólicas interagem com os medicamentos utilizados por esses pacientes e podem aumentar alguns efeitos colaterais, como sonolência e sedação.
O paciente com esquizofrenia pode dirigir?
Não há regra geral. Isso depende da gravidade do caso e também do tipo de medicamento que o paciente está usando. Um dos efeitos colaterais provocados por alguns antipsicóticos é a diminuição de reflexos e o aumento da sonolência, o que prejudica não só a capacidade de dirigir como a de operar máquinas que representem riscos de acidente. Por isso, cada situação deve ser avaliada individualmente pelo médico responsável pelo tratamento.
O portador de esquizofrenia pode ser contrariado?
Muitos temem dizer “não” ao paciente, com receio de que ele piore ou se torne agressivo.  O diálogo com o paciente deve ser igual à conversa com qualquer pessoa. Muitas vezes será necessário estabelecer limites, pois não é possível atender a todos os seus desejos. Embora possa parecer difícil, ele precisa aprender a tolerar frustrações.
Quais são os fatores de estresse que podem acarretar um novo surto?
Os portadores de esquizofrenia têm dificuldade para tolerar situações de muito estresse. Além dos fatores relacionados à família, como críticas excessivas e superproteção, eventos da vida com forte carga emocional, tais como a morte de alguém da família ou próximo, e situações de exigência excessiva, como pressão no trabalho, podem provocar a piora dos sintomas. Cada paciente tem um grau de sensibilidade ao estresse, de modo que é preciso avaliar individualmente a tolerância aos fatores estressantes.
A família deve ajudar o portador em suas atividades diárias?
A pessoa deve ser estimulada. Cuidando de algumas tarefas da casa ela poderá mostrar que pode ter mais autonomia. As tarefas podem não ser bem recebidas quando o indivíduo é pouco ativo, mas pode ser uma forma de ele mostrar alguma independência e conquistar maior autoestima.
Uma portadora de esquizofrenia pode engravidar?
Sim. Mas cabe ao psiquiatra orientar a possibilidade de substituição, diminuição ou suspensão da medicação durante a gravidez. O uso dos antipsicóticos pode causar a diminuição da menstruação, mas mesmo nesses casos há possibilidade de gravidez, sendo necessário o uso de métodos contraceptivos.
Deve-se levar em conta que criar um filho exige da mãe um esforço grande e possível carga de estresse, o que pode agravar o quadro sintomatológico. Em virtude da gravidade dos sintomas, algumas pacientes poderão ter dificuldade para cuidar da criança.
Referências:
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