Distimia

Sabe aquela pessoa mal humorada, insatisfeita, pessimista e que se queixa com frequência que está cansada? Ou que não tem disposição para muita coisa, que parece lhe faltar energia? Ou que reclama da dificuldade em dormir, vive reclamando da vida ou de qualquer coisa que aconteça ou que deixou de acontecer? Outras vezes, queixa-se das pessoas, é impaciente e briga com alguma facilidade quando contrariada? Pessoas assim são descritas como difíceis de conviver ou com um gênio forte, porém, esse jeito de ser pode ter outro nome: Distimia.
A Distimia é uma forma de depressão crônica, menos intensa do que as chamadas depressões maiores, e faz parte do grupo dos Transtornos do Humor (Akiskal, 2001).
Os sintomas devem durar pelo menos dois anos ou mais para justificar o diagnóstico de Distimia, contudo, as pessoas podem ter curtos períodos de humor normal.
A prevalência da Distimia é de aproximadamente 3 a 6% da população em geral e no Brasil existem aproximadamente 5 a 11 milhões de pessoas que sofrem desse mal (Serreti et al, 1999). Em relação à distribuição entre homens e mulheres a Distimia é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens e também é mais comum em pessoas solteiras 18-20 (Hayden,Klein 2001). Quando casadas, essas pessoas têm relacionamentos insatisfatórios, são poliqueixosas e insatisfeitas com a vida.
Os pacientes com transtorno distímico frequentemente são sarcásticos, niilistas, rabugentos, exigentes e queixosos. Eles podem ser tensos, rígidos, resistentes às intervenções terapêuticas, podem perder o interesse nas atividades diárias normais, se sentir sem esperança, ter baixa produtividade, baixa autoestima e um sentimento geral de inadequação. As pessoas com Distimia são consideradas excessivamente críticas, que estão constantemente reclamando e são incapazes de se divertir.
Na Distimia, os sintomas depressivos incomodam o paciente, mas não o impede de exercer suas atividades, apenas faz com que ele tenha que despender um esforço maior que as outras pessoas para realizá-las. Muitas vezes têm dificuldades com o sono ou com apetite.
Apesar de o transtorno cursar com um funcionamento social relativamente estável, essa estabilidade é relativa, visto que muitos desses pacientes investem a energia que têm no trabalho, nada sobrando para o prazer e para as atividades familiares e sociais, o que acarreta atrito conjugal característico.
A maioria das pessoas com Distimia não consegue dizer quando se percebeu deprimido pela primeira vez, isso quando reconhecem seu estado como um problema. E os que sofrem desde a infância ou adolescência tendem a acreditar que esse estado faz parte do seu jeito de ser e, por isso, não procuram um médico, afinal, conseguem viver quase normalmente.
Embora os antidepressivos corrijam o distúrbio biológico, o tratamento medicamentoso sem terapia não funciona. O paciente precisa aprender novas possibilidades de reagir e estabelecer relações interpessoais mais saudáveis.
Referências
Akiskal HS. Dysthymia and cyclothymia in psychiatric practice a century after Kraepelin. J Affect Disord 2001;62:17-31.
Hayden EP, Klein DN. Outcome of dysthymic disorder at 5-year follow-up: the effect of familial psychopathology, early adversity, personality, comorbidity, and chronic
stress. Am J Psychiatry 2001;158:1864-70.
Klein DN. Depressive personality in the relatives of outpatients with dysthymic disorder and episodic majordepressive disorder and normal controls. J Affect Disord 1999;55:19-27.
Ravindran AV, Anisman H, Merali Z, Charbonneau Y, Telner J, Robert B, et al. Treatment of primary dysthymia with group cognitive therapy and pharmacotherapy:clinical symptoms and functional impairments. Am J Psychiatry 1999;156(10):1608-17.

Dúvidas Frequentes na Esquizofrenia

Como a família pode ajudar no tratamento?
Tudo começa pelo impacto inicial da notícia de que alguém da família tem esquizofrenia. Familiares ficam perplexos e confusos. Atitudes hostis, críticas e superproteção prejudicam o paciente. Apoio e compreensão são indispensáveis, assim ele conseguirá conviver com a doença e terá autoconfiança. A participação é importante, pois a doença afeta a dinâmica de toda a família. Informações sobre as características da doença ajudam a compreender melhor o problema e as necessidades do paciente. Vários estudos já mostraram que, quando se reduz a pressão familiar, melhora o prognóstico e as recaídas diminuem.
Como deve ser a comunicação com alguém que tem esquizofrenia?
Pessoas com esquizofrenia tem uma grande dificuldade para lidar com estímulos externos de qualquer tipo, especialmente quando há dois ou mais estímulos ao mesmo tempo. Por causa disso, as comunicações devem ser breves, concisas e claras. Faça uma pergunta de cada vez: “Foi bom o passeio? Aguarde a resposta, para, então, perguntar: “Quem foi com você?
 A esquizofrenia pode ser consequência do modo como os pais educam seus filhos?
Não. Houve um tempo em que se acreditava que esquizofrenia poderia ser causada dessa forma, principalmente pela maneira como a mãe se relacionava com seu filho. Atualmente, sabe-se que os pais não têm poder de causar essa doença em seus filhos, embora se reconheça que a esquizofrenia possa ser agravada pela atitudes dos pais em pressionar e aumentar as situações de estresse para o paciente.
A esquizofrenia pode se manifestar na infância?
É rara, e acomete uma criança a cada 10.000 (em adultos atinge um adulto em cada 100). A esquizofrenia infantil é uma perturbação que se engloba em um comportamento e pensamento anormais; inicia-se aproximadamente entre os sete anos e o princípio da adolescência. Entre os 13 e 18 anos a prevalência é maior do que antes dos 12 anos. Apresentam déficits neuropsicológicos importantes com uma grande gama de alterações na função cerebral, incluindo atenção, memória e funções executivas.
Idosos podem ter esquizofrenia?
A esquizofrenia começa no final da adolescência ou idade adulta jovem e persiste por toda a vida. Cerca de 20% das pessoas com esquizofrenia não apresentam sintomas ativos aos 65 anos; 80% mostram graus variados de comprometimento.  A doença torna-se menos acentuada à medida que o paciente envelhece.
Os sintomas da esquizofrenia manifestam-se da mesma forma em todos os pacientes?
Não. As manifestações sintomáticas podem ser completamente diferentes de um paciente para outro. Alguns pacientes apresentam delírios, alucinações, alterações na organização do pensamento e agitação. Outros se isolam e apresentam pobreza de discurso, retraimento social, enfraquecimento afetivo. Os sintomas podem variar em um mesmo paciente ao longo do tempo, de acordo com a evolução da doença ou conforme o tratamento adotado.
A agressividade é uma característica da esquizofrenia?
Geralmente, não. Pode ocorrer em alguns casos que, em função de ideias de perseguição ou de alucinações intensas, o paciente se sinta acuado ou ameaçado e possa reagir de modo agressivo. Os riscos de agressividade aumentam quando o paciente não aceita ser medicado ou não utiliza a medicação corretamente ou, ainda, quando usa drogas. Seguir o tratamento adequadamente minimiza os riscos de agressividade.
O abuso de drogas aumenta os riscos de violência?
O abuso de drogas aumenta significativamente o índice de violência em pessoas que têm esquizofrenia, mas também nas que não têm a doença. Pessoas com sintomas paranóides (de perseguição) e psicóticos, pioram se a medicação for interrompida e podem ter um maior risco de comportamento violento. Quando ocorre a violência, esta é com maior frequência direcionada a algum familiar ou pessoa próxima e, muitas vezes, acontece em casa.
Se o paciente se recusa a tomar o remédio, a medicação pode ser diluída em algum alimento ou bebida?
É bastante comum o paciente recusar a medicação. Dar o remédio escondido misturado à comida ou bebida não resolve o problema. O diálogo pode ser cansativo, mas continua sendo defendido como a maneira mais eficiente de fazer o paciente entender as implicações da doença e a necessidade do tratamento. É importante mostrar a relação entre o uso de medicamentos e a melhora dos sintomas.
Pacientes com esquizofrenia podem fazer uso de bebidas alcóolicas?
Não. As bebidas alcoólicas interagem com os medicamentos utilizados por esses pacientes e podem aumentar alguns efeitos colaterais, como sonolência e sedação.
O paciente com esquizofrenia pode dirigir?
Não há regra geral. Isso depende da gravidade do caso e também do tipo de medicamento que o paciente está usando. Um dos efeitos colaterais provocados por alguns antipsicóticos é a diminuição de reflexos e o aumento da sonolência, o que prejudica não só a capacidade de dirigir como a de operar máquinas que representem riscos de acidente. Por isso, cada situação deve ser avaliada individualmente pelo médico responsável pelo tratamento.
O portador de esquizofrenia pode ser contrariado?
Muitos temem dizer “não” ao paciente, com receio de que ele piore ou se torne agressivo.  O diálogo com o paciente deve ser igual à conversa com qualquer pessoa. Muitas vezes será necessário estabelecer limites, pois não é possível atender a todos os seus desejos. Embora possa parecer difícil, ele precisa aprender a tolerar frustrações.
Quais são os fatores de estresse que podem acarretar um novo surto?
Os portadores de esquizofrenia têm dificuldade para tolerar situações de muito estresse. Além dos fatores relacionados à família, como críticas excessivas e superproteção, eventos da vida com forte carga emocional, tais como a morte de alguém da família ou próximo, e situações de exigência excessiva, como pressão no trabalho, podem provocar a piora dos sintomas. Cada paciente tem um grau de sensibilidade ao estresse, de modo que é preciso avaliar individualmente a tolerância aos fatores estressantes.
A família deve ajudar o portador em suas atividades diárias?
A pessoa deve ser estimulada. Cuidando de algumas tarefas da casa ela poderá mostrar que pode ter mais autonomia. As tarefas podem não ser bem recebidas quando o indivíduo é pouco ativo, mas pode ser uma forma de ele mostrar alguma independência e conquistar maior autoestima.
Uma portadora de esquizofrenia pode engravidar?
Sim. Mas cabe ao psiquiatra orientar a possibilidade de substituição, diminuição ou suspensão da medicação durante a gravidez. O uso dos antipsicóticos pode causar a diminuição da menstruação, mas mesmo nesses casos há possibilidade de gravidez, sendo necessário o uso de métodos contraceptivos.
Deve-se levar em conta que criar um filho exige da mãe um esforço grande e possível carga de estresse, o que pode agravar o quadro sintomatológico. Em virtude da gravidade dos sintomas, algumas pacientes poderão ter dificuldade para cuidar da criança.
Referências:
Bellack, A. S., Haas, G. L., Schooler, N. R., & Flory, J. D. (2000). Effects of behavioural family management on family communication and patient outcomes in schizophrenia. British Journal of Psychiatry, 277, 434-439.
Kaplan HI, Sadock BJ, editores. Tratado de Psiquiatria. 6a edição. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1999.
American Psychiatric Association Pratice Guidelines. Practice guideline for the treatment of patients with schizophrenia. Am J Psychiatry 1997;154(Suppl 4):1-49.
Zanini MH, Cabral RRF. Psicoterapia de grupo na Esquizofrenia. In: Shirakawa I, Chaves AC, Mari JJ, editores. O desafio da Esquizofrenia. São Paulo (SP): Lemos Editorial; 1998.

Terapia do Esquema

A Terapia do Esquema proporciona um novo sistema psicoterápico especialmente adequado a pacientes com transtornos psicológicos crônicos, até então considerados difíceis de tratar. A Terapia do Esquema pode ser breve, de médio ou de longo prazo, dependendo do paciente. Ela amplia a terapia cognitivo-comportamental tradicional ao dar ênfase muito maior à investigação das origens infantis e adolescentes dos problemas psicológicos. De acordo com Young os esquemas são causados pela vivência de experiências tóxicas que se repetem com alguma regularidade no decorrer da vida e que impossibilitam o preenchimento de necessidades emocionais essenciais do ser humano (vínculo seguro com outras pessoas, incluindo proteção, estabilidade e segurança; autonomia, competência e senso de identidade; liberdade para expressar necessidades e emoções; espontaneidade e diversão; limites precisos e autocontrole).
São “crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente”, representando o patamar mais profundo da cognição, e “operam de modo sutil, fora de nossa consciência”, extremamente estáveis e duradouros que se desenvolvem cedo durante a infância, “são elaborados ao longo da vida e são disfuncionais em um grau significativo”, compõe núcleos profundos do self refletidos na auto-imagem tácita, como uma visão orgânica e inquestionável de si mesmo. São rígidos e incondicionais, por exemplo, quando o paciente sente que, não importa o que possa fazer, não será amado, mas sim abandonado e traído em sua confiança. O indivíduo percebe o EID como uma verdade, em um primeiro momento, irrefutável e a aceita como uma realidade intrínseca, essencial. Outras características importantes dos EIDs são seu caráter auto perpetuador e sua resistência à mudança. Mesmo que o indivíduo seja enormemente bem sucedido na vida, isso não acarretaria alteração do esquema disfuncional. Os padrões cognitivos e emocionais que configuram um esquema desadaptativo ocasionam respostas desadaptativas. Os estilos de enfrentamento desadaptativos, apesar de auxiliarem o sujeito a não experimentarem as emoções intensas e opressivas engendradas pelos esquemas, servem como elementos importantes da perpetuação dos mesmos. Young identificou 18 Esquemas Iniciais Desadaptativos agrupados em cinco categorias: (Young et.al., 2003).
Desconexão e rejeição
Em geral, esses pacientes sofreram com experiências infantis traumáticas, pois as famílias costumam apresentar características de instabilidade, abuso, frieza, rejeição ou isolamento do mundo exterior. Esse domínio é formado pelos seguintes EIDs: abandono/instabilidade, desconfiança/abuso, privação/emocional, defectividade/vergonha e isolamento social/alienação.
Limites prejudicados
Indivíduos com esquemas nesse domínio geralmente são oriundos de famílias demasiado permissivas, nas quais a imposição de limites foi falha. Isso colabora para a falta de limites no cumprimento de regras, autodisciplina e respeito aos direitos alheios. Como principais características, esses indivíduos têm o egoísmo, a irresponsabilidade e o narcisismo. Dentro desse domínio estão os EIDs: merecimento/grandiosidade e autocontrole/autodisciplina insuficientes.
Orientação para o outro
Indivíduos tendem a manter uma postura de atender a todas as necessidades dos outros em detrimento das suas no intuito de receber aprovação e evitar retaliações. Em geral, suas famílias estabeleceram relações condicionais, ou seja, só dava atenção e aprovação caso a criança se comportasse da maneira desejada. Os pais valorizavam muito mais as suas necessidades emocionais ou a “aparência” do que as necessidades da criança. Nesse domínio, estão inclusos os esquemas: subjugação, auto sacrifício e busca de aprovação/busca de reconhecimento.
Supervigilância e inibição
Pessoas com esquemas nesse domínio reprimem seus sentimentos e impulsos com a finalidade de cumprir regras rígidas internalizadas, em prejuízo de sua própria felicidade, relacionamentos íntimos e boa saúde. Normalmente, as famílias têm características rígidas e repressoras, sendo que os sentimentos não podem ser expressos de maneira livre e o autocontrole e a negação de si próprios predominam sobre outros aspectos. Nesse domínio, podemos citar os seguintes esquemas: negativismo/pessimismo, inibição emocional, padrões inflexíveis/postura crítica exagerada e postura punitiva.
É importante notar que os esquemas contêm “memórias, emoções, sensações corporais e cognições” (Young et. al. 2003), mas não envolvem as respostas comportamentais; o comportamento não é parte do esquema, é parte do estilo de enfrentamento.
O primeiro objetivo da Terapia do Esquema é a consciência psicológica. O terapeuta ajuda os pacientes a identificarem seus esquemas e a se tornarem conscientes de suas memórias de infância, emoções, sensações corporais, cognições e estilos de enfrentamento associados a eles.  Quando os pacientes repetem padrões disfuncionais baseados em seus esquemas, o terapeuta os confronta, empaticamente, com as razões para a mudança. Por meio de uma “recuperação parental limitada”, o terapeuta fornece a muitos pacientes um antídoto parcial às necessidades que não foram atendidas adequadamente na infância.
Uma vez que entendam seus esquemas e estilos de enfrentamento, os pacientes começam a exercer algum controle sobre suas respostas, aumentando o exercício de livre-arbítrio em relação aos esquemas.
Referências:
Young JE. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada em esquemas. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. 3a ed. Porto Alegre: ArtMed; 2003.

Acceptance and Commitment Therapy

A Acceptance and Commitment Therapy (ACT) é baseada em compreender um comportamento dentro de um contexto, que envolve o ambiente e a história do indivíduo, com intenção de mudar o sofrimento, maximizar o potencial humano para uma vida com qualidade, plena e significativa. Desenvolvida dentro de um quadro teórico e filosófico, a ACT é uma intervenção psicológica única com base empírica que utiliza estratégias de aceitação e Mindfulness, juntamente com estratégias de compromisso e mudança comportamental, para aumentar a flexibilidade psicológica (i.e., a capacidade de se contatar com o momento presente plenamente como ser humano consciente, e com base nas circunstâncias atuais, alterar ou persistir numa conduta ao serviço de valores escolhidos e assim diminuir o sofrimento).
Quem tem um sofrimento evita situações que o causam. Mas, como não podemos controlar todas as nossas emoções é preciso entender que, em alguns momentos, sentiremos sensações que não são as mais agradáveis. É preciso aceitar a existência dessas sensações, compreendendo que elas são transitórias e que não é preciso evitar uma situação que as cause porque algumas coisas mudam e outras, não, e cada pessoa precisa descobrir a melhor forma de lidar com ambos os tipos de situações.
Na Terapia é realizado um autodescobrimento para compreender quais são os valores mais estimados pelo indivíduo e o que pode motivá-lo a continuar seguindo em busca dos seus objetivos. É importante ir em busca do que se quer alcançar de fato. É o compromisso de alinhar os comportamentos, baseando-se no que se quer conquistar, aprendendo que há pensamentos que funcionam como um “sistema de defesa” do cérebro quando este entende alguma situação como perigosa. Uma vez livre da luta contra as próprias avaliações, pensamentos e sentimentos, as pessoas podem agir de modo produtivo sobre seu ambiente.
O principal objetivo da Terapia da Aceitação e Compromisso é proporcionar um aumento da flexibilidade psicológica e, assim, diminuir o sofrimento.
Referências:
Hayes, S. C.; Pankey, J. & Gregg, J. (2002). Anxiety and acceptance and commitment Therapy. Em: E. Gosh & R. DiTomasso (Orgs.). Comparative treatments of anxiety disorders. New York: Springer

Mindfulness

Na vida urbana moderna agimos muitas vezes sem estar emocionalmente envolvidos em nossas ações ou fazemos várias coisas ao mesmo tempo, às vezes sem percebermos que as diferentes atividades têm objetivos distintos e acabam se esbarrando.
A prática de Mindfulness passou a fazer parte da medicina comportamental a partir dos programas de redução de estresse de Kabat-Zinn (1992) como uma forma específica de atenção plena – concentração no momento atual, intencional, e sem julgamento. Considerando que as pessoas funcionam muito em um modo que o autor chama de piloto automático, concentrar-se no momento atual significa estar em contato com o presente, trazer a atenção plena para a ação no momento atual e não estar envolvido com lembranças ou com pensamentos sobre o futuro.  O objetivo da abordagem é, por meio da prática de Mindfulness, convidar os participantes do programa a tornarem-se conscientes de todos os pensamentos e sentimentos que surgem na experiência humana e de aceitá-los como parte do fluxo de ser humano, aprendendo  que devem ser reconhecidos como simplesmente pensamentos e sentimentos e nada mais, e responder de forma mais receptiva a essas experiências.
 Linehan (1993) introduz o treino de mindfulness no princípio do treino de habilidades sociais. Os componentes do mindfulness são:
(1) Observar: estar atento a eventos, a emoções e a diversos aspectos do próprio comportamento.
(2) Descrever: relato verbal dos eventos e das próprias reações a eles, sem avalia-los
 (3) Participar plenamente sem promover atividades paralelas como racionalizar ou justificar.
Mindfulness constitui uma inovação na prática clínica e representa um acréscimo no arsenal de técnicas terapêuticas disponíveis.
Referências:
Kabat-Zinn, J.; Massion, A. O.; Kristeller, J.; Peterson, L. G.; Fletcher, K. E.; Pbert, L.; Lenderking, W. R. & Santorelli, S. F. (1992). Effectiveness of a meditation-based stress reduction program in the treatment of anxiety disorders. American Journal of Psychiatry, 149.
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. New York: Guilford.

Doença de Alzheimer

O crescimento da população idosa é um fenômeno mundial. As projeções para o ano de 2020 mostram que os idosos chegarão a 25 milhões de pessoas, destes, 15 milhões serão mulheres, representando 11,4% da população total. Com isso, há o aumento das doenças crônico-degenerativas relacionadas à idade, como as demências. A causa mais frequente de demência é a Doença de Alzheimer (DA), representando 50% a 70% dos casos. No Brasil, há a estimativa de que aproximadamente 500 mil pessoas sejam portadoras da DA, o que nos mostra que essa é uma morbidade de impacto em toda uma sociedade. Entretanto, sua causa não é totalmente conhecida, o que se pode observar são as alterações provocadas no organismo, causando gradual incapacitação ao sujeito que a possui. Não há cura, porém, existem tratamentos e formas de prevenção que podem evitar seu surgimento ou retardar seu progresso.
Um fator imprescindível para qualquer tratamento é o diagnóstico precoce. O sintoma mais evidente no início da doença é o comprometimento da memória recente, pensamento, raciocínio, alterações de comportamento e afeto, observando-se uma gradativa perda da autonomia e o consequente aumento da necessidade de cuidados e supervisão por parte de terceiros.
E é na família que se encontram os principais cuidadores, que reconhecem os primeiros sinais e são realizam os primeiros cuidados.
Essas mudanças na saúde do idoso desencadeiam, também, modificações na dinâmica familiar, podendo gerar estresse e crises.
O cuidador, em sua maioria, a esposa, um dos filhos ou outro parente, ou, ainda, uma pessoa contratada para a função, é quem dá suporte físico e psicológico, fornecendo ajuda prática, e, se necessário, desempenha um papel essencial na vida diária dos pacientes com DA, envolvendo-se em praticamente todos os aspectos do cuidado e assumindo responsabilidades adicionais de maneira crescente.
À medida que a demência vai progredindo, o cuidador, além de se envolver em atividades da vida diária (AVD), como administrar finanças e medicamentos, tem um aumento de suas responsabilidades em AVDs básicas, como cuidados de higiene pessoal e alimentação.
Em média, os cuidadores despedem 60 horas por semana com responsabilidades de cuidador.  Muitas vezes, a tarefa é assumida de maneira inesperada, o que gera uma sobrecarga emocional. Nesse sentido, o cuidador pode vir a apresentar elevado grau de ansiedade, tanto pela sobrecarga de cuidados quanto pelas modificações em sua estrutura familiar.
Sabe-se que o processo de cuidar engloba a compreensão de si e do outro. Desse modo, o cuidado é tido como um encontro, em que a fragilidade do momento deve ser suportada, por fim, o cuidado revela-se desafiador, necessitando ser vivenciado diariamente. Diante disso, é necessário ensinar novas formas de comportamento, em que os envolvidos adquiram conhecimentos mais profundos de si, fornecendo-lhes condições para continuarem no papel de cuidadores com amor, garra e disposição, preservando as suas próprias necessidades.
Cuidar de uma pessoa com doença de Alzheimer não é tarefa fácil, é uma situação que requer habilidades e conhecimentos. Com a evolução da doença, principalmente, o comportamento do portador vai sendo alterado, necessitando, assim, de um amplo entendimento sobre o assunto.
Os fatores de impacto
O primeiro fator a ser considerado é o posicionamento da família diante da doença. Assim como a doença passa por vários estágios, a família passa por diferentes etapas. Em princípio, a família não sabe o que está acontecendo diante das manifestações de déficit do paciente, gerando sentimentos de hostilidade e irritação. Por outro lado, o paciente pode perceber as próprias deficiências, correndo o risco de ficar deprimido.
À medida que a doença vai evoluindo, ocorre a busca por um diagnóstico, porém, nem sempre os familiares o aceitam rapidamente, podendo negá-lo, na tentativa de recuperar a “pessoa de antes” . Após a aceitação do diagnóstico pode haver uma sensação de catástrofe. As famílias reagirão de maneiras diferentes, dependendo das próprias características, e podem ocorrer posicionamentos indesejáveis entre os familiares, como: superproteção, evasão da realidade e expectativas exageradas com relação ao desempenho do paciente. Os parentes que fazem evasão da realidade, ou seja, negam a doença são geralmente os que mais sofrem; já os que assumem a função de cuidador tendem a monopolizar a função, colocando-se na posição de serem os únicos a fazer as coisas e abdicam de qualquer atividade que represente uma satisfação pessoal, acabando “heroicamente estressados”.
O objetivo da maioria das intervenções é mudar a forma como o cuidador interage com o paciente em casa. Melhores estratégias de gerenciamento de problemas influenciam o ajustamento emocional do cuidador, refletindo uma melhor assistência por parte do paciente. Essas intervenções também podem ajudar a amenizar a angústia do cuidador, evitar a institucionalização do paciente e permitir que a família possa fazer planos. A atenção aos cuidadores de pacientes com DA é essencial, pois se reflete em uma melhor qualidade de vida não só para o cuidador, mas principalmente para o paciente. “A melhor ajuda para o paciente é ajudar o cuidador”. (Fala de um cuidador).
Referências:
Bottino, C. M.; Carvalho, I.A.M.; Alvarez. M.A.; Avila, R. ; Zukauskas, P. R.; Bustamante, S. E.Z.; Andrade, F. C.; Hototian, S. R.; Saffi, F. ; Camargo, C. H.P. Reabilitação Cognitiva em pacientes com Doença de Alzheimer. Arq. Neuropsiquiatr. V. 60, n.1, 2002.